A CBPA recebeu R$ 99 milhões em descontos de aposentados de 2023 a 2025, mas sua receita era muito maior do que isso.
Apenas entre maio de 2024 e maio de 2025, a entidade gastou R$ 410 milhões em uma de suas contas bancárias.
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“Movimentação muito acima da declarada. Suspeitamos de lavagem de dinheiro, podendo conter desvios de dinheiro público e outras ilicitudes, como favorecimento de crimes ambientais”, disse a instituição financeira em comunicação ao Coaf.
Parte dos recursos da CBPA foram repassados a empresas que, também segundo comunicações de bancos ao Coaf, possivelmente serviam como contas de passagem para ocultar o destino do dinheiro da confederação.
Entre elas está a Home Staff, empresa em São Paulo em que 98% do faturamento, o correspondente a R$ 6,4 milhões, veio de repasses da CBPA. Desse valor, R$ 4,7 milhões foram repassados a outra firma, a Arpar Administração Participação.
Um mecanismo semelhante foi detectado na Titanium Pay, que recebeu R$ 2 milhões da CBPA em 2024, praticamente seu único faturamento, e mandou R$ 1,3 milhão para a Arpar.
Considerando um escopo temporal maior, outro relatório demonstra que, entre 2024 e 2025, a Home Staff recebeu R$ 20,4 milhões da CBPA e a Titanium, R$ 15,9 milhões.
“O tipo de movimentação realizada, bem como o montante transacionado no período, não guarda relação com o perfil operacional do cliente e de suas contrapartes” e o tipo de transação das duas empresas “parece compor um conjunto de operações com o fim de dissimular o real beneficiário do recurso”.
A Arpar Administração é citada no inquérito das fraudes nos descontos de aposentados como uma empresa usada para ocultação de valores. É citada também como destino de desvios no contrato da Vai de Bet com o Corinthians, como revelou o Metrópoles.
Nos últimos três anos, a confederação também gastou R$ 14 milhões identificados em notas fiscais, segundo a quebra de sigilo enviada à CPMI do INSS.
O maior gasto, descrito como “fornecimento do e-book”, foi com uma empresa de intermediação financeira, a Pagglo Serviços Financeiros Digitais. Foram R$ 4,6 milhões enviados à empresa. Em seguida, há um gasto de R$ 3,3 milhões com uma gráfica.
Abraão Lincoln não costumava fazer gastos em seu próprio nome, segundo os relatórios. A Receita Federal encontrou apenas R$ 1,6 mil em gastos com seu nome em 2024 e R$ 96,3 mil em 2025.
Colônias e federações
As suspeitas sobre transações financeiras não recaem apenas sobre a CBPA, mas também sobre os dirigentes de federações e colônias.
Entre maio de 2023 e maio de 2024, o deputado estadual Edson Cunha de Araújo (PSB), presidente licenciado da Fecopema, federação do Maranhão, recebeu R$ 5,4 milhões em repasses de sua própria federação, valores considerados atípicos.
Nas colônias, o problema se repete. Rodrigo Araújo Andrade, dirigente da colônia de Pau dos Ferros (RN), município de 30 mil habitantes, recebeu R$ 200 mil da CBPA no segundo semestre de 2023.
Nesse período, ele sacou R$ 75 mil em cheques na agência bancária, supostamente para pagar um evento sobre pesca.
São recursos muito maiores do que a colônia poderia movimentar, considerando que, naquele ano, inscreveu apenas 107 pescadores no defeso.
Em Amapá (AP), R$ 178 mil foram transferidos de 2023 a 2024 por centenas de pessoas para a conta da irmã da dirigente da colônia municipal, Izabela dos Santos, de onde foram repassados para pagar contas da entidade e para a conta da própria Izabela.
A população da cidade de Amapá é de 8.000 pessoas, das quais um décimo (880) recebeu seguro-defeso em 2024.
Outra colônia ligada à CBPA com movimentações suspeitas é a de Igarapé Miri (PA), administrada por Ana Cristina Fernandes. A entidade recebeu R$ 858,2 mil em um ano, metade através de 90 depósitos de dinheiro em espécie.
A entidade informou ao banco que se trata de uma contribuição anual dos associados —há 8,3 mil beneficiários do defeso na cidade—, mas os repasses foram considerados suspeitos.