Talento, extravaso e lágrimas. Protagonismo, heroísmo e aflição. Pedro Rocha vivenciou tudo isso e muito mais diante de um Mineirão lotado nesta quarta-feira, ao comandar a vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG, que dá larga vantagem ao Grêmio no duelo de ida da final da Copa do Brasil. Dono do jogo, o jovem tomou para si o palco do 7 a 1. Seja pelas duas pinturas para abrir o placar, pela expulsão ou pelo choro desconsolado, solitário no túnel de acesso aos vestiários. O certo é que tudo estará documentado pelo pai, seu Gessé, em seu “Livro de Ouro”.
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O pai coruja faz questão de registrar cada passo da carreira em seu caderno, uma espécie de “scout” do filho, desde o início sofrido da carreira, no Espírito Santo, sua terra natal. Deve, inclusive, reservar uma página – ou quem sabe um capítulo? – especial para narrar todos os momentos de Pedro em campo. O camisa 32, alvo constante de críticas, se transformou em herói improvável com duas pinturas. Mas também pagou pelo protagonismo, ao tirar a camisa, em êxtase para comemorar o segundo gol. Foi expulso e deixou o campo em lágrimas, que rolaram por muito mais do que os tentos desta quarta-feira.
De fato, é preciso ir além da noite épica em Belo Horizonte para entender o choro do jovem ao deixar o gramado e ser consolado por Renato Gaúcho. A emoção tem a ver, claro, com o calor do jogo, com a agonia de ver seu protagonismo ameaçado. Mas também com tudo por que passou desde pequeno.
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– Na hora que fiz o segundo gol, a emoção foi muito grande. E no momento, ali, fui logo tirando a camisa. Isso me prejudicou. Fico chateado por isso, mas feliz pela atuação minha e de toda a equipe. Eu não imaginava. Acreditava que podia fazer a diferença, como todos os companheiros. Mas estava sonhando muito com isso. Tenho certeza que toda a minha família vai estar me esperando. Quero agradecer aqui a todos que me apoiaram para chegar aqui neste momento – afirma o garoto, após os dois gols, a expulsão e as lágrimas.
E olha que coincidência. Pedro Rocha deu seus primeiros passos na carreira justamente na escolinha do Atlético-MG em Vitória. Logo, passou a se destacar nos campeonatos locais, a ponto de despertar o interesse do São Paulo, numa transação que não se concretizou. Pedro voltou ao estado natal e, mesmo com a família em dificuldades financeiras, manteve o destaque nos campeonatos locais. Entre 2002 e 2008, Gessé e Rosineide tinham até de pedir empréstimos para ver o menino brilhar. Foram 301 gols, documentados no “Livro de Ouro”, reativado no ano passado, com gols já pelo Grêmio, no Brasileirão.
O talento não tardou a ser reconhecido. Em 2012, Pedro foi contratado pelo Diadema, de São Paulo. No ano seguinte, foi emprestado ao Juventus. Na rua Javari, logo conquistou seu espaço com arrancadas, objetividade e gols. Bastou uma partida sob os olhares atentos do coordenador da base do Grêmio Júnior Chávare para selar a ida rumo a Porto Alegre por empréstimo até o fim de 2014 – no começo de 2015, o Tricolor adquiriu 70% de seus direitos federativos.
No Grêmio, Pedro Rocha até iniciou em baixa, com lesões, mas logo se tornou destaque da equipe sub-20. Num dos treinos com os profissionais, conseguiu atrair os olhares de Felipão. Foi o suficiente para ser promovido ao elenco principal em 2015, quando anotou seu primeiro gol, contra o Passo Fundo, no Gauchão. E com a camisa 7 de Renato Gaúcho às costas.

No ano passado, o jogador foi titular da equipe em seu melhor momento com Roger Machado e anotou nove gols em 44 partidas. Não restringiu, porém, seus esforços aos limites do campo. Longe do dia a dia de treinamentos e jogos, o atacante aproveita para cursar a faculdade de Educação Física.