“A confusão vem de longe….”
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Não é de hoje que as rivalidades políticas de União vem a tona. Se compararmos com nosso passado, talvez vivenciamos o período mais brando delas. Acusações de fraude, compra de votos, troca de farpas e incriminações fazem parte da atmosfera política unionense desde os tempos de Império. Outrora bem mais graves já que a censura sobre elas era bem menos rígidas.
Um dos principais motivos geradores de discórdias eram os resultados das eleições, que quase sempre não agradava a todos, cenário não muito diferente de hoje. Os derrotados usavam seus principais veículos para expor suas indignações fazendo acusações graves contra seus adversários. Esse sempre fora o estopim para um confronto mais ríspido entre partidos contrários que acabavam se transformando em verdadeiras “batalhas campais”. O palco disso tudo eram os jornais!
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A primeira grande disputa política que vivenciamos se deu ainda nos tempos de povoação, no longínquo ano de 1846. O cargo disputado fora o de comandante do 13º Batalhão da Guarna Nacional sediado no Estanhado. Concorreram a esse posto duas figuras icônicas: João do Rego Monteiro (conservador) e Lívio Lopes Castelo Branco (liberal). O primeiro gozava de muita popularidade por aqui pois era um dos grandes empreendedores da povoação. “Era aclamado pelo povo”. O segundo era completamente o inverso, pois era visto como um “traidor da pátria” por ter lutado ao lado dos rebeldes durante a Balaiada. As discussões se deram nas páginas dos principais jornais da época, ligados aos partidos Conservador e Liberal. O resultado mais esperado se concretizou. João do Rego Monteiro, o futuro barão triunfou na disputa e fora nomeado comandante.
Conservadores e liberais, aliás, seriam os grandes personagens de brigas e disputas políticas que viria mais adiante, logo após a emancipação política de União. De 1853 ate 1889 as grandes famílias unionenses disputavam a hegemonia política se dividindo entre os dois partidos vigentes. Entre os liberais a família que mais se destacou fora a “Ferreira”, liderada pelo major Francisco Barbosa Ferreira e seu irmão padre Simpliciano. Do lado conservador, tínhamos o maior número delas. A liderança do partido era divididas entre as muitas famílias e seus chefes. Destacamos a hegemonia dos “Regos”, “Lobão Veras”, “Souza Fortes”, e “Coutinho”. Por serem a maioria muitas vezes disputas internas fragmentaram o partido, o maior delas, o conturbado relacionamento entre Fernando Alves de Lobão Veras Júnior e Clemente de Souza Fortes.
Diante dessa conjuntura, a grande rivalidade existente em União era entre Francisco Barbosa Ferreira e o tenente Clemente de Souza Fortes. Ambos protagonizaram verdadeiras batalhas nas paginas dos jornais liberais e conservadores. A situação tornou-se tão agravante que as acusações passaram a ser pessoais. Denuncias de maus tratos a escravos, animais, e a fraudes eleitorais chegaram a ser trocadas entre os dois. Em 1873, o próprio vigário da Freguesia – padre Simpliciano, fora acusado de burlar uma eleição paroquial.
Com o início da República novas conjunturas políticas se formaram. Porem, as desavenças permaneciam “intactas”. Antigas alianças foram desfeitas ao mesmo tempo em que novas se formaram. Uma delas foi a inimaginável aliança entre os Ferreiras com Benedito Rego. Nesse novo cenário os “Lobão Veras” tornaram-se adversário dos “Regos”. Mudanças a parte o clima “quente” na política continuava a todo vapor. Vivíamos a República Velha. Denuncias de fraudes, eleições decididas a “bico de pena” pesaram contra os “Regos” em 1911. A acusação era de que durante as eleições parlamentares do mês de novembro o grupo político comandado por Benedito J. Rego Filho teria fraudado as eleições, enviando a contagem de votos bem antes do término da sessão. No início do século XX, Fenelon F. Castelo Branco chegou a publicar textos satíricos ironizando o governo de Benedito Rego Filho e a dinastia dos “Regos” a frente da intendência municipal. Em 1912 e 1916 as escaramuças chegaram ao ponto de maior tensão em virtude dos resultados das eleições estaduais. A população piauiense assim como a unionense chegou ao ponto de pegar em armas a fim de defender suas posições políticas. Por pouco não tivemos um derramamento de sangue!
De lá pra cá, as escaramuças continuaram. Na década de 1940 vivenciamos um “festival de acusações” contra o prefeito Francisco Narciso da Rocha e seu conturbado governo. Na festa do centenário da paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em 1953, não faltaram críticas da oposição a organização do então prefeito Antônio Medeiros Filho. Em 1972 o prefeito eleito abdicou do cargo poucos meses depois de tomar posse, passando para o vice. Nas últimas eleições municipais, a disputa “voto a voto” tornou-se um das mais acirradas e concorridas dos últimos anos. Essas e outras polêmicas “das políticas” unionenses estiveram a tona no decorrer da história.
O tema impeachment não é novo em União. Embora acabamos de vivenciá-lo na cidade, em 1896, a própria Câmara Municipal (na época denominada de Conselho), fora suspensa de suas atividades por ordem do governador Raimundo Antônio de Vasconcelos. Por indícios de corrupção e desvio de verbas públicas, em 15 de junho suas portas “foram fechadas”.
Hoje, com a era digital e com a popularidade da internet, essas disputas ficaram mais “animadas”. Memes, caricaturas, e outros recursos são bastante utilizados através das redes sociais para ilustrar essas “rusgas” do passado.
frei Cegonha